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Fiscalização identifica 60 crianças e adolescentes em trabalho infantil nas feiras de Aracaju

Ações aconteceram em feiras livres dos bairros Ponto Novo, Suíssa, Grageru e Bugio

 

Uma fiscalização conjunta identificou pelo menos 60 crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil nas feiras livres de Aracaju. Nos dias 22, 23 e 24 de novembro, equipes do Ministério Público do Trabalho em Sergipe (MPT-SE), auditores-fiscais do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério Público do Estado de Sergipe (MPSE) e Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Sergipe (OAB-SE) realizaram uma inspeção em feiras livres. A ação foi teve o objetivo de verificar os casos de trabalho infantil que, apesar das ações e medidas repressivas, persistem.

 

Procurador do Trabalho Alexandre Alvarenga durante fiscalização
Procurador do Trabalho Alexandre Alvarenga durante fiscalização

No último domingo (24), o procurador do Trabalho Alexandre Alvarenga, os auditores-fiscais do Trabalho Liana Carvalho e Antônio Correia Sobrinho e a presidente da Comissão da Infância e Adolescência da OAB/SE, Thaísa Ribeiro, estiveram em uma das feiras mais movimentadas da zona norte de Aracaju, a feira do Bairro Bugio. “Nós temos uma ação que foi ajuizada em 2012, que diz respeito ao combate à exploração do trabalho infantil e adoção de políticas públicas em geral. O Município de Aracaju já foi condenado, junto com a Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb) e se encontra em fase de execução. Já foram pagos, pelo Município, centenas de milhares de reais, a título de indenização e multa, pelo descumprimento das obrigações”, explicou o procurador do Trabalho Alexandre Alvarenga, que também é coordenador Regional da Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho de Crianças e Adolescentes (Coordinfância).

Criança de apenas oito anos estava sozinha, trabalhando na feira
Criança de apenas oito anos estava sozinha, trabalhando na feira

Na feira do bairro Bugio, 31 crianças e adolescentes foram identificados em situação de trabalho infantil. Um caso que chamou a atenção foi de uma criança de apenas oito anos de idade, encontrada sozinha, vendendo produtos, e mal sabia dizer o nome completo. “O trabalho infantil é um fenômeno da pobreza. Existe um ciclo vicioso de pobreza que o Estado deve quebrar. Muitas dessas crianças são obrigadas a iniciar o seu trabalho ainda precocemente em feiras livres, matadouros e lixões”, disse o auditor-fiscal do Trabalho Antônio Sobrinho.

No dia 23, as equipes foram à feira do bairro Grageru, onde nove crianças e adolescentes foram encontrados trabalhando. “A principal atividade é o carrego, para transporte das compras nas feiras. Mas em alguns pontos, geralmente nas barracas, encontramos crianças e adolescentes acompanhados dos próprios pais. Enquanto o trabalho infantil persistir, os órgãos públicos precisam insistir na erradicação dessa chaga social. A luta é grande e o nosso trabalho vai continuar”, ressaltou o procurador Raymundo Ribeiro.

Procurador do Trabalho Raymundo Ribeiro e promotora de Justiça Lilian Carvalho conversam com adolescente
Procurador do Trabalho Raymundo Ribeiro e promotora de Justiça Lilian Carvalho conversam com adolescente


Na sexta-feira (22), as equipes realizaram a inspeção em duas feiras na capital, nos bairros Ponto Novo e Suíssa, onde foram registrados 20 casos de trabalho infantil. Além dos auditores, o procurador do Trabalho Raymundo Ribeiro, a vice-presidente da Comissão da Infância e Adolescência da OAB/SE, Verônica Passos, e a promotora de Justiça Lilian Carvalho identificaram graves casos de violação aos direitos das crianças e adolescentes. “Infelizmente, a sociedade não vê o trabalho infantil como uma violação de direitos. Mas isso traz consequências sérias, principalmente para as crianças e adolescentes, que são pessoas em desenvolvimento. É um trabalho cansativo, exposto ao sol, ou seja, reflete na saúde e no futuro, porque, muitas vezes, tira essas crianças da escola, do processo de aprendizagem”, pontuou a promotora de Justiça Lilian Carvalho. A ação teve o apoio operacional da Guarda Municipal de Aracaju (GMA).

As equipes encontraram, em Aracaju, crianças e adolescentes de outros municípios, a exemplo de Itabaiana, Rosário do Catete, Malhador e Areia Branca, que vieram à capital para trabalhar. Nas ações, foram distribuídas cartilhas, produzidas pelo MPT, explicando os prejuízos do trabalho infantil e mostrando a Aprendizagem Profissional como um caminho para mudar essa realidade. De acordo com a presidente da Comissão da Infância e Adolescência da OAB/SE, Thaísa Ribeiro, ainda há muita resistência, o que torna a conscientização cada vez mais necessária. “A gente explica o que é o programa da Aprendizagem Profissional e muitos adolescentes dizem que não tem interesse, porque precisa fazer curso e alguns acham que a realidade aqui, na feira, é mais vantajosa. Esse é mais um motivo para o nosso trabalho de conscientização continuar, porque precisamos mostrar à sociedade que é possível mudar esse cenário”, destacou a advogada Thaísa Ribeiro.

Carrego é principal atividade de crianças e adolescentes em feiras livres
Carrego é principal atividade de crianças e adolescentes em feiras livres

Durante a fiscalização, foi realizado um levantamento completo, que será utilizado nos procedimentos e para inserção dos adolescentes em programas de Aprendizagem Profissional. “Estamos fazendo esse trabalho de conscientização, para que esses adolescentes sejam inseridos na aprendizagem profissional e saiam de atividades prejudiciais e nocivas ao seu desenvolvimento psicológico, físico e social. A lei traz essa possibilidade, de aprender um ofício, de trabalhar, sem comprometer seus estudos e desenvolvimento”, ressaltou a auditora-fiscal Liana Carvalho. Os dados farão parte de um relatório que, depois, será encaminhado ao MPT-SE, para adoção das medidas judiciais cabíveis.

Equipes que integraram fiscalização conjunta
Equipes que integraram fiscalização conjunta

Equipes do terceiro dia de fiscalização nas feiras livres
Equipes do terceiro dia de fiscalização nas feiras livres

*Fotos: Lays Millena Rocha

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